Continuando a falar sobre aerofólios (Veja o primeiro post sobre eles. Decidi dividir em duas partes pra não ficar muito comprido), agora vamos ver quais são as modificações mais comuns e seus efeitos.
A primeira delas é a mais facilmente encontrada: os furos. Eles servem para gerar arrasto, reduzindo o giro ou até mesmo a velocidade do bumerangue, a depender do lugar onde forem feitos. Eles são modificações permanentes, mas podem ter seus efeitos reduzidos ou até mesmo neutralizados se forem coberto com fita adesiva. Você pode fechá-los completamente ou parcialmente, além de poder fechar apenas um dos lados, explorando vários efeitos possíveis (que poderão variar de modelo a modelo, então não tenha preguiça de testar). Para o arrasto gerado ser menor, você pode variar o formato do furo: em vez de fazê-lo simplesmente reto, você pode dar a ele um formato cônico, arredondar suas bordas ou até mesmo fazê-lo inclinado. Uma dica: quando for fazer furos em madeira, coloque um retalho por baixo e fure tanto o bumerangue quanto o retalho. Isso evita que as bordas do furo soltem lascas.
Se forem feitos nas pontas das asas os furos irão reduzir o giro do bumerangue, facilitando a pegada e aumentando também a resistência ao vento. Já no centro eles irão diminuir a velocidade do voo. Quanto maior for o furo central, menor será a velocidade com que o bumerangue se deita (fazendo o voo ficar mais baixo) e maior será a velocidade com que ele cairá, se for do tipo que paira (ou "desce pela chaminé"). Você pode testar fazer um único furo central grande ou vários pequenos e experimentar os diferentes efeitos.
Uma variação dos furos são as fendas. Muitas não passam de furos alongados em formato de gota ou bastão, ou até mesmo de cortes finos ligando dois furos. Geram mais arrasto que os furos normais, sendo mais vistos em modelos para ventos fortes. Podem ser feitos tanto no mesmo sentido da asa, quanto atravessados e é comum que eles tenham as bordas arredondadas.
A última modificação que aumenta o arrasto são os pentes, sendo a modificação com um efeito mais drástico. Eles são nada mais do que pequenos cortes paralelos entre si na borda de fuga (podem aumentar a altura e distância do voo) ou de ataque (ajudam a estabilizar o bumerangue em caso de ventos mais fortes). Geralmente são mais utilizados por pessoas que colocam força de mais no arremesso.
Como as modificações descritas acima são irreversíveis, é preciso pensar muito bem antes de fazê-las no seu bumerangue. O ideal é que você primeiro experimente colocar elásticos e flaps (que terão efeitos semelhantes, mas que são facilmente reversíveis) para decidir se e onde as alterações serão feitas.
Também é possível texturizar a superfície de cima ou de baixo da asa, gerando pequenos efeitos. Se a textura for feita embaixo da asa, a velocidade do ar que passa ali vai ser reduzida, aumentando a sustentação. Se for feita em cima, obviamente, a sustentação irá ser diminuída. Essa texturização pode ser feita usando uma lixa bem grossa ou até mesmo fazendo ranhuras rasas e "covinhas" como as de uma bola de golfe. Esse último caso é mais difícil de ser encontrado pois dá muito trabalho para fazer e resultados semelhantes podem ser obtidos por meios mais fáceis (e não pode ser feito em madeira, pois ela solta lascas, sendo mais fácil de realizar em outro materiais, de preferência os plásticos).
Outro tipo de modificação são os concaves. O fundo do bumerangue é cavado, geralmente próximo à ponta da asa, reduzindo o peso e aumentando a sustentação. Também aumenta bastante o arrasto. Ironicamente, é bastante utilizado em modelos para Fast Catch (lembrando que o fundo do TriFly possui um concave e é muito comum ele ser recortado para fazer bumerangues para esta prova). Os concaves deixam o bumerangue bem mais sensível a variações no ângulo de ataque. Pode ser feito de vários formatos.
Menos comuns são os concaves na parte de cima da asa. Aparentemente isso aumenta a sustentação e melhora o desempenho em ventos mais fortes. Também pode ter diferentes formatos.
A última modificação é uma inovação brasileira, criada pelo André Caixeta (também conhecido com Edim, que gentilmente me esclareceu como ela funciona pra que eu pudesse incluir nessa postagem), usada com sucesso no modelo Hades (uma modificação deste modelo, o Hades 2, foi usada pelo André pra vencer a prova de Fast Catch no mundial de 2012). Ela consiste em um sulco na borda de ataque do bumerangue que gera arrasto e reduz o giro apenas na parte final do voo. Isso permite pegadas mais seguras em modelos de voo muito violento sem reduzir a velocidade deles, dando vantagem na prova.
O sulco age mais ou menos da seguinte forma: quando a asa do bumerangue corta o ar, logo em frente à borda de ataque surge um "colchão de ar" em que a pressão é maior e o ar não gera turbulência (logo, gera pouco arrasto). Porém, com o sulco, assim que o bumerangue começa a perder um pouco de velocidade (já perto do fim do voo), esse "colchão" se desfaz, permitindo que o ar entre no sulco e gerando turbulências, reduzindo o giro e facilitando a pegada.
O problema maior do sulco é como fazer com precisão. Provavelmente a melhor forma seria usar um disco de corte e uma micro-retífica. Se alguém criar outra forma que não precise de ferramentas elétricas, por favor compartilhe nos comentários.
Até a próxima!
Ítalo Carvalho.
Créditos das imagens:
[1] a [8]: Performance Boomerangs, por John Cross, versão digital por David B Bjørklund.
[9]: Ítalo Carvalho.
A primeira delas é a mais facilmente encontrada: os furos. Eles servem para gerar arrasto, reduzindo o giro ou até mesmo a velocidade do bumerangue, a depender do lugar onde forem feitos. Eles são modificações permanentes, mas podem ter seus efeitos reduzidos ou até mesmo neutralizados se forem coberto com fita adesiva. Você pode fechá-los completamente ou parcialmente, além de poder fechar apenas um dos lados, explorando vários efeitos possíveis (que poderão variar de modelo a modelo, então não tenha preguiça de testar). Para o arrasto gerado ser menor, você pode variar o formato do furo: em vez de fazê-lo simplesmente reto, você pode dar a ele um formato cônico, arredondar suas bordas ou até mesmo fazê-lo inclinado. Uma dica: quando for fazer furos em madeira, coloque um retalho por baixo e fure tanto o bumerangue quanto o retalho. Isso evita que as bordas do furo soltem lascas.
[1] Vários tipos de furos.
Se forem feitos nas pontas das asas os furos irão reduzir o giro do bumerangue, facilitando a pegada e aumentando também a resistência ao vento. Já no centro eles irão diminuir a velocidade do voo. Quanto maior for o furo central, menor será a velocidade com que o bumerangue se deita (fazendo o voo ficar mais baixo) e maior será a velocidade com que ele cairá, se for do tipo que paira (ou "desce pela chaminé"). Você pode testar fazer um único furo central grande ou vários pequenos e experimentar os diferentes efeitos.
[2] Os furos centrais pode ser um só ou vários.
Uma variação dos furos são as fendas. Muitas não passam de furos alongados em formato de gota ou bastão, ou até mesmo de cortes finos ligando dois furos. Geram mais arrasto que os furos normais, sendo mais vistos em modelos para ventos fortes. Podem ser feitos tanto no mesmo sentido da asa, quanto atravessados e é comum que eles tenham as bordas arredondadas.
[3] Vários tipos de fendas e o perfil com as bordas
arredondadas.
A última modificação que aumenta o arrasto são os pentes, sendo a modificação com um efeito mais drástico. Eles são nada mais do que pequenos cortes paralelos entre si na borda de fuga (podem aumentar a altura e distância do voo) ou de ataque (ajudam a estabilizar o bumerangue em caso de ventos mais fortes). Geralmente são mais utilizados por pessoas que colocam força de mais no arremesso.
[4] Pentes na fuga e no ataque.
Como as modificações descritas acima são irreversíveis, é preciso pensar muito bem antes de fazê-las no seu bumerangue. O ideal é que você primeiro experimente colocar elásticos e flaps (que terão efeitos semelhantes, mas que são facilmente reversíveis) para decidir se e onde as alterações serão feitas.
Também é possível texturizar a superfície de cima ou de baixo da asa, gerando pequenos efeitos. Se a textura for feita embaixo da asa, a velocidade do ar que passa ali vai ser reduzida, aumentando a sustentação. Se for feita em cima, obviamente, a sustentação irá ser diminuída. Essa texturização pode ser feita usando uma lixa bem grossa ou até mesmo fazendo ranhuras rasas e "covinhas" como as de uma bola de golfe. Esse último caso é mais difícil de ser encontrado pois dá muito trabalho para fazer e resultados semelhantes podem ser obtidos por meios mais fáceis (e não pode ser feito em madeira, pois ela solta lascas, sendo mais fácil de realizar em outro materiais, de preferência os plásticos).
[5] Ranhuras (esquerda) e covinhas (esquerda)
Abaixo, o perfil de uma asa com covinhas.
Outro tipo de modificação são os concaves. O fundo do bumerangue é cavado, geralmente próximo à ponta da asa, reduzindo o peso e aumentando a sustentação. Também aumenta bastante o arrasto. Ironicamente, é bastante utilizado em modelos para Fast Catch (lembrando que o fundo do TriFly possui um concave e é muito comum ele ser recortado para fazer bumerangues para esta prova). Os concaves deixam o bumerangue bem mais sensível a variações no ângulo de ataque. Pode ser feito de vários formatos.
[6] Vários tipos de concave em perfil.
[7] Vários tipos de concave em vista frontal.
Menos comuns são os concaves na parte de cima da asa. Aparentemente isso aumenta a sustentação e melhora o desempenho em ventos mais fortes. Também pode ter diferentes formatos.
[8] Concave na parte de cima da asa
em perfil e vista frontal.
A última modificação é uma inovação brasileira, criada pelo André Caixeta (também conhecido com Edim, que gentilmente me esclareceu como ela funciona pra que eu pudesse incluir nessa postagem), usada com sucesso no modelo Hades (uma modificação deste modelo, o Hades 2, foi usada pelo André pra vencer a prova de Fast Catch no mundial de 2012). Ela consiste em um sulco na borda de ataque do bumerangue que gera arrasto e reduz o giro apenas na parte final do voo. Isso permite pegadas mais seguras em modelos de voo muito violento sem reduzir a velocidade deles, dando vantagem na prova.
O sulco age mais ou menos da seguinte forma: quando a asa do bumerangue corta o ar, logo em frente à borda de ataque surge um "colchão de ar" em que a pressão é maior e o ar não gera turbulência (logo, gera pouco arrasto). Porém, com o sulco, assim que o bumerangue começa a perder um pouco de velocidade (já perto do fim do voo), esse "colchão" se desfaz, permitindo que o ar entre no sulco e gerando turbulências, reduzindo o giro e facilitando a pegada.
[9] Sulco na borda de ataque.
O problema maior do sulco é como fazer com precisão. Provavelmente a melhor forma seria usar um disco de corte e uma micro-retífica. Se alguém criar outra forma que não precise de ferramentas elétricas, por favor compartilhe nos comentários.
Até a próxima!
Ítalo Carvalho.
Créditos das imagens:
[1] a [8]: Performance Boomerangs, por John Cross, versão digital por David B Bjørklund.
[9]: Ítalo Carvalho.